Produção de queijo de búfala ganha destaque

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imageCom baixa quantidade de gordura e rico em cálcio, a variedade vem conquistando o paladar dos cearenses

Fortaleza. Sabor diferenciado, baixo teor de gordura e maior quantidade cálcio em relação ao produto bovino são os principais atrativos do queijo de búfala, que vem ganhando espaço no mercado. Há quinze anos, a variedade vem sendo produzida no Ceará pela Queijaria Laguna, com sede no município de Paracuru, no Litoral Oeste do Estado.

“Buscávamos entrar no mercado de produtos saudáveis, que viraram uma grande preocupação do consumidor nos dias de hoje. Decidimos investir no queijo de búfala porque se trata de um produto diferenciado e com grande qualidade nutricional”, explica Nelson Prado Filho, diretor comercial da Queijaria Laguna.

Inovação

Atualmente, a empresa fabrica 400 quilos de queijo por dia, nas variedades queijo ricota e queijo minas frescal. A produção é vendida para redes de supermercados, hotéis e hospitais de Fortaleza e algumas cidades do Interior. Mas foi preciso, segundo ele, enfrentar um longo caminho para introduzir a novidade junto ao consumidor cearense e estabelecer o produto no mercado.

“Começamos a vender em pequenas panificadoras e tínhamos que promover degustações para quebrar a resistência do público ao que não conheciam. Outro problema que verificamos é o fato que optamos por fazer o queijo sem nenhum tipo de conservante, o que faz com que ele tenha uma maior perecibilidade. No início, tínhamos uma devolução de 30% do produto”.

Para não abrir mão do produto fresco, a solução foi investir em técnicas de higienização e qualidade da matéria-prima para aumentar a duração do queijo. “O leite vem da nossa fazenda, não compramos de fora porque aqui controlamos a qualidade. E quanto mais higiene tivermos no processo de fabricação, mais ele vai durar”. Além do queijo, a linha de laticínios da empresa inclui o creme de nata, a coalhada, o requeijão cremoso e o creme de leite fresco.

Vantagens nutricionais

Para o coordenador do Laboratório de Laticínios do Departamento de Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal do Ceará (UFC), Antônio Cláudio Lima Guimarães, uma das principais vantagens do leite de búfala em relação ao produto similar bovino é a riqueza de cálcio e proteínas, sem falar no perfil de colesterol muito menor.

“O leite de búfala apresenta 35% a mais de cálcio e quase metade do colesterol do leite de vaca, 47%, além de ser de ótima digestão. Dada a nobreza desse leite, é interessante investir na produção de queijos finos como o minas frescal, a mussarela original, a ricota fresca ou defumada, entre outros”, revela.

Segundo o coordenador, estas características fazem com que o produto ganhe cada vez mais aceitação do consumidor, já que a busca por produtos menos gordurosos e ricos em cálcio virou uma forte tendência para quem quer emagrecer ou prevenir doenças como osteoporose. Apesar do principal derivado do leite de búfala ser o queijo, também é possível produzir variedades como coalhada, creme de leite, nata e requeijão, além de versões light destes. Mas para fabricar um produto de qualidade, é necessário levar em conta a adoção de rigorosos processos de higiene e limpeza.

“O produtor que tiver interesse nesse ramo deve ter conhecimento e prática dos preceitos de higiene preconizados pela legislação em vigor e contar com tecnologia específica de produção dos diferentes derivados lácteos. Outro fator importante é a utilização de insumos de qualidade nas distintas formulações, além de equipamentos consoantes com todas as exigências legais pertinentes aos diferentes processos produtivos”, aponta.

BUBALINOCULTURA
Apesar do potencial, rebanho do CE ainda é pequeno

Fortaleza. Apesar de ainda ter um plantel pequeno em relação a outros Estados, o Ceará vem ganhando destaque na bubalinocultura, em especial por conta da qualidade genética e da boa adaptação do búfalo ao clima. Além da produção de leite e derivados, a Fazenda Laguna, em Paracuru, atua no fornecimento de sêmen e reprodutores para universidades e criadores.

O búfalo é um animal originário da Ásia e foi introduzido no Brasil no final do século XIX. O estabelecimento da criação bubalina no Ceará desfez mitos como a de que o animal só se adaptaria a ambientes úmidos, além da crença de que a espécie tinha uma índole pouco dócil, criando resistência para os produtores investirem.

A introdução da espécie no Estado também alcançou melhores condições de reprodução por conta da condição climática. “Aqui eles procriam quase o ano inteiro porque o clima favorece a reprodução. Em países como a Itália, onde a criação de búfalo leiteiro é forte, há problemas de concentração de parto em determinadas épocas por conta do clima mais frio”, afirma o responsável pelo criatório da Fazenda Laguna, Nelson Prado.

Carne e leite

Atualmente, o Pará é o maior criador de búfalos do Brasil, concentrando 50% do rebanho. Em relação aos animais de corte, a maior taxa de conversão alimentar, além da capacidade maior de salivação e ruminação do búfalo, permitem que ele alcance o peso ideal em menos tempo do que o bovino criado sob as mesmas condições. “O búfalo criado para corte alcança 450 quilos num prazo entre 18 e 24 meses. Já o boi, para chegar a este mesmo peso, precisa de cerca de 36 meses. Sem falar que a carne e o leite produzidos pelo búfalo são bem mais nobres”.

Segundo ele, a raça pura predominante no Ceará é a murrah, de grande qualidade leiteira. O potencial genético dos búfalos criados no Estado vem atraindo a atenção de universidades e criadores do Brasil e do exterior. “Temos uma parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA) para fornecer sêmen de búfalo. Já recebemos visitas de criadores e estudiosos de países como Itália, Irã, Argentina, Venezuela e Costa Rica”, ressalta.

Potencial mal aproveitado

Estabelecido no Ceará há 17 anos e com um rebanho de 673 cabeças, o criador Nelson Prado lamenta que a criação de búfalos não seja mais difundida no Estado. “É uma pecuária muito interessante, que gera carne e leite nobres, de grande valor nutricional. Temos um potencial grande no Ceará, mas é preciso dar treinamento para os pequenos produtores e incentivos ”.

Ele defende a criação de um pólo de criação no Estado, em que pequenos produtores teriam condições para melhorar a renda familiar ao lidar com um produto de grande valorização. “Seria importante para suprir a demanda de leite de búfala e para aumentar a produção de derivados”.

Mais informações:
Queijaria Laguna
Fazenda Laguna, s/n, Bairro Vela Branca – Paracuru
(85) 3262.2161

fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/regional/producao-de-queijo-de-bufala-ganha-destaque-1.58099